NÓS.

Giovanni Ojeda
3 min readMay 27, 2020

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Não é apenas sobre o que eu não pude receber de ti, mas principalmente sobre o que ninguém seria capaz de me dar. Não agora, muito menos assim.

Também me é familiar a dor de amar e não ser amado, sinto muito que se sinta desse modo e desejo que logo se cure desse embrulho no estômago toda vez que o celular tocar e não for uma mensagem minha chegando aí. O que não te desejo é ser amado tantas vezes, por pessoas tão incríveis, e mesmo assim ter sido incapaz de amá-las de volta. Não te desejo ser obrigado a vê-las partindo por terem te dado um presente tão belo, mas que você, de mãos atadas, não pôde aceitar, incapaz de retribuir algo tão puro assim do nada. Não te desejo os dedos apontados dizendo que você não se esforçou para amá-las de volta, como se tivesse conscientemente escolhido abrir mão de tanta coisa boa que poderia ter sido partilhada. Muito menos te desejo vê-las se encontrar com um amor verdadeiro logo após de terem deixado você partir, de modo tão sincero e espontâneo que se torna desgastante, deixando a sensação de que o amor foi feito para todo mundo, menos para ti.

Queria eu não ter dado pedaços tão grandes do meu coração no passado, a ponto de fundo no peito ter sobrado apenas algumas migalhas pra mim. Talvez desse jeito aqueles encontros que tivemos, aquelas tentativas que fizemos, os esforços que me permiti, talvez tudo isso tivesse surtido algum efeito, mesmo que mínimo, dentro de mim. Qualquer coisa que me diga que ainda há esperança e que não estou desperdiçando você comigo, quebrando alguém no meio do mesmo modo que lá atrás fizeram comigo e que hoje me trouxe até aqui.

Dizem que na palma da mão temos as nossas linhas da cabeça, do coração, do destino… Quem me dera não ter dado tantos nós cegos. Talvez a gente tivesse escrito a nossa própria trilogia, talvez eu pudesse ser ainda mais bobo contigo, talvez tivéssemos discutido mais sobre aleatoriedades da vida. Ou talvez eu sequer tivesse chegado perto de você, simplesmente por ter encontrado o amor bem antes disso, nos braços das minhas outras tantas tentativas que vieram antes de ti. Talvez assim não tivesse tanta gente nesse mapa de dor, a minha história se resumiria e deste modo tudo seria arte!

Mas não funciona assim. Não para a nossa geração de amantes desafortunados. João amava Tereza, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili, que não amava ninguém, nem a si mesma, e quando mais precisou, nem mesmo foi amada por Joaquim, que antes disso não amou tanta gente que se eu fosse escrever um por um acabaria alongando demais essa última linha aqui!

Foi-se o tempo em que éramos crianças, caindo e levantando sem parar, incapazes de remoer dores e racionalizar o roxo do hematoma na ranhura da pele. Agora cada cicatriz importa, marcando uma passagem a mais. A verdade é que, no fim das contas, amor é algo que você não pode fingir ou esperar que cresça eventualmente. Ou você tem ou não. Espero que você consiga lidar com isso melhor do que eu consigo. Você que de tão evasivo só não escapou pelos meus dedos simplesmente pelo fato de eu nunca ter conseguido fechar minhas mãos em concha para te aprisionar aqui.

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Giovanni Ojeda
Giovanni Ojeda

Written by Giovanni Ojeda

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos. Emaranhador de fios.

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